O FIM

“Sim, Francis. Tu vais morrer!” A noticia veio como uma descarga eléctrica de 220 volts. As palavras do médico confirmaram os meus piores receios: As minhas células estão a envelhecer a cada hora, minuto, segundo que passam. “Falta-me muito?” “Depende. Poderás viver até aos 80, 90… dependendo da atenção que deres à tua saúde” “Contudo…” “Sim, contudo vais mesmo morrer de velhice, como todos nós”
Poderão imaginar como me senti. Vou morrer? Mas tenho tantas coisas para fazer! Será que ainda tenho tempo para fazer as malas? Então e a vizinha do 2º Esquerdo? É melhor aproveitar agora, antes que me vá ou que o marido volte! Haverá vida depois da morte?... e se houver, poderei levar os ténis novos da Riboque?

Notas póstumas (ou para depois da morte)

Quando morrer quero ser Cromado. Sim, é isso mesmo. Se vivi toda a minha vida num país de Cromos, nada melhor do que ser sepultado numa caderneta gigante, colado com Cola Pica-Pau ao lado de figuras da história nacional. (Se possível, ao lado do Professor Oliveirinha; Tenho umas quantas para lhe dizer).
Não quero choros nem lágrimas no meu funeral. Bem, exceptuando talvez os gajos da Caixa Geral de Depósitos a quem devo uma pipa de massa pelo empréstimo da casa e também umas quantas suecas e holandesas (Permitam que sonhe um gajo que vai acordar morto).
Também não quero risos, danças e bebedeiras em cima da minha campa (digo, caderneta). Peçam ao Miguel Sousa Tavares para ir discursar para outro lado.
Gostaria que o meu corpo fosse à Igreja para poder fazer as pazes com o Criador. Sei que já afirmei que não voltava a pôr os pés numa Igreja nem morto. Contudo, através de uma argumentação consistente, não me oporei.
Por fim, gostaria que o meu epíteto fosse: “Francis, os portugueses te homenageiam. É verdade que não fizeste nada por nós, mas também não nos fodeste!”
Soares e Cavaco, querem o meu voto? Montem-se neste (gesto obsceno) a ver se deixo!
P.S. Não esquecer comprar Gilletes, Pasta de dentes e bolachas de água e sal.