Hermengarda Sabão - Uma mulher, uma vida (Peça de Teatro)
Segue-se um breve trecho das famosas peças de teatro de Francis. Sempre polémico, o autor aborda sem preconceitos todos os tabus da sociedade, chocando até os maiores defensores da liberalidade e provocando acesa discussão quer na praça publica, quer nos cafés de bairro, descambando na maior parte das vezes em cenas de pancadaria. A controvérsia desta peça fez inclusive com que fosse banido da sua própria casa pela esposa e pela filha de 6 anos durante duas horas seguidas.
Acto 1
Hermengarda Sabão, é uma mulher como tantas outras que, à porta dos quarenta, deseja engravidar pela terceira vez, embora as todas as tentativas para a demover e tentar convence-la a ter antes um segundo filho, sejam infrutíferas. Desconsolada, pois Toino, seu marido passa os dias na café a jogar matraquilhos, às cartas e a beber – e não por esta ordem, necessariamente – o seu único amigo e confidente é o seu Ginecologista, o Doutor Zé, um homem que vive amargurado por possuir três testículos e ter agora de remover um deles mas não se conseguir decidir qual, uma vez que se afeiçoou a todos de forma igual.
Doutor Zé – Portanto o seu marido revela melhoras…
Hermengarda – Algumas, senhor doutor. Ele ainda fala com a mobília depois de chegar do café. Mas está mais contido em relação ao arrancar pelos do peito para dentro do prato da sopa.
Desesperada, Hermengarda refugia-se, sempre que pode, na literatura, passando cada vez mais tempo nos livros. As suas incursões pelas letras, levam-na por meios ainda pouco claros ao país dos brinquedos onde conhece o Noddy. Encanta-a a mistura de cores tão naive, a serenidade dum país onde apenas existem 2 malfeitores já referenciados pela Policia. Onde não precisa lavar roupa ou cozinhar. Apaixonada, deixa-se cair nos braços de Noddy e os dois têm uma relação escaldante interrompida 3 minutos depois quando confessa uma certa atracção pelo nariz pontiagudo do Pinóquio. Num assomo de ciúmes, o seu amante atira-lhe um queque à cabeça inchando-lhe um olho e surpreendo-a com a consistência do bolo. Desconsolada, regressa à vida real, mas na Estação, uma Gazela rouba-lhe a carteira.
Intervalo… Distribuem-se pipocas pela assistência.
Acto 2
Hermengarda - Tinha razão, Doutor, eu devia ter-lhe dado ouvidos, mas tive agora uma luz que me alumiou. Foi quando ouvi uma canção do Carlos do Carmo…
Doutor Zé - Foi a “Retalhos da vida dum médico”? – Indagou com um lampejo de esperança nos olhos.
Hermengarda - Não. Foram as “Canoas do Tejo”, lembrei-me das gaivotas e depois descobri que estava apaixonada pelo Leiteiro.
Doutor Zé - Como?... – Pergunta com a voz rouca de desespero – Como foi associar as Gaivotas ao Leiteiro?
Hermengarda consuma a paixão pelo Leiteiro e ambos partem num cruzeiro à Tunísia sem saber que carrega no ventre o fruto do seu amor por Noddy. Desgostoso, o médico recorre finalmente à cirurgia para retirar um testículo mas fá-lo num dos hospitais que o Governo se prepara para fechar. A operação, feita no chão duma sala escura sem luz, é um fracasso e, por engano, retiram-lhe o pénis, dando razão a Zé Sócrates quanto à falta de condições dos hospitais. Desesperado, o Doutor Zé tenta o suicídio apontando uma pistola à cabeça e disparando. Lamentavelmente, a arma é um embuste, pelo que, ao premir o gatilho, sai pelo cano uma bandeira de xadrez. O disparo não o mata, mas a haste da bandeira fura-lhe uma vista cegando-lhe um olho.
Acto 1
Hermengarda Sabão, é uma mulher como tantas outras que, à porta dos quarenta, deseja engravidar pela terceira vez, embora as todas as tentativas para a demover e tentar convence-la a ter antes um segundo filho, sejam infrutíferas. Desconsolada, pois Toino, seu marido passa os dias na café a jogar matraquilhos, às cartas e a beber – e não por esta ordem, necessariamente – o seu único amigo e confidente é o seu Ginecologista, o Doutor Zé, um homem que vive amargurado por possuir três testículos e ter agora de remover um deles mas não se conseguir decidir qual, uma vez que se afeiçoou a todos de forma igual.
Doutor Zé – Portanto o seu marido revela melhoras…
Hermengarda – Algumas, senhor doutor. Ele ainda fala com a mobília depois de chegar do café. Mas está mais contido em relação ao arrancar pelos do peito para dentro do prato da sopa.
Desesperada, Hermengarda refugia-se, sempre que pode, na literatura, passando cada vez mais tempo nos livros. As suas incursões pelas letras, levam-na por meios ainda pouco claros ao país dos brinquedos onde conhece o Noddy. Encanta-a a mistura de cores tão naive, a serenidade dum país onde apenas existem 2 malfeitores já referenciados pela Policia. Onde não precisa lavar roupa ou cozinhar. Apaixonada, deixa-se cair nos braços de Noddy e os dois têm uma relação escaldante interrompida 3 minutos depois quando confessa uma certa atracção pelo nariz pontiagudo do Pinóquio. Num assomo de ciúmes, o seu amante atira-lhe um queque à cabeça inchando-lhe um olho e surpreendo-a com a consistência do bolo. Desconsolada, regressa à vida real, mas na Estação, uma Gazela rouba-lhe a carteira.
Intervalo… Distribuem-se pipocas pela assistência.
Acto 2
Hermengarda - Tinha razão, Doutor, eu devia ter-lhe dado ouvidos, mas tive agora uma luz que me alumiou. Foi quando ouvi uma canção do Carlos do Carmo…
Doutor Zé - Foi a “Retalhos da vida dum médico”? – Indagou com um lampejo de esperança nos olhos.
Hermengarda - Não. Foram as “Canoas do Tejo”, lembrei-me das gaivotas e depois descobri que estava apaixonada pelo Leiteiro.
Doutor Zé - Como?... – Pergunta com a voz rouca de desespero – Como foi associar as Gaivotas ao Leiteiro?
Hermengarda consuma a paixão pelo Leiteiro e ambos partem num cruzeiro à Tunísia sem saber que carrega no ventre o fruto do seu amor por Noddy. Desgostoso, o médico recorre finalmente à cirurgia para retirar um testículo mas fá-lo num dos hospitais que o Governo se prepara para fechar. A operação, feita no chão duma sala escura sem luz, é um fracasso e, por engano, retiram-lhe o pénis, dando razão a Zé Sócrates quanto à falta de condições dos hospitais. Desesperado, o Doutor Zé tenta o suicídio apontando uma pistola à cabeça e disparando. Lamentavelmente, a arma é um embuste, pelo que, ao premir o gatilho, sai pelo cano uma bandeira de xadrez. O disparo não o mata, mas a haste da bandeira fura-lhe uma vista cegando-lhe um olho.
Cai o pano.
14 Comments:
Ainda bem que caiu o pano, senão, iria acontecer mais alguma desgraça ao coitado. Que tremenda falta de sorte!
Estou a copiar Hermengarda e refugio-me nos livros... Nesses dias não há nada melhor. Claro, desde que eu saiba escolher.
Cheiros,
E também nas lembranças inventivas.
+ cheiros,
Eheheheheh... Adorei o suicídio falhado do doutor. De resto, repara: agora tem um canudo, falta de visão, e falta de...
... Já pode ir para a política!
E continuar a melhorar os hospitais!
Boa peça, nos saiste! :-)
PS - Solidarizo-me com a tua filha... Manchares dessa forma a reputação de uma criatura tão querida! :-(
É caso para dizer que no melhor Noddy cai o pano! ;-)
Ah... E respondi-te, claro, as usual... Só para chatear! ;-)))
se a minha filha lê isto nunca mais vê o Noddy, é certo (pensando bem, nem má ideia é.... hum...)
ahahahah adorei!!!!
Boa noite!
Venham mais peças! Isto dos 3 testículos deve ser coisa que anda no ar. No meu modesto blog tenho o Prof. Testículo que se prepara para fazer a Psicanálise do Telemóvel.
(isto foi publicidade descarada ao meu blog)
Bem, o suicídio falhado final é sublime e a ideia de fazer híbridos entre personagens das séries (in)fantis e personagens da literatura é excelente. Aliás isto não é surreal, é o novo neo-realismo passado pelas óptica do Jarry e do Vian.
More disorder to come!
Saudações incívicas,
MDC
E a Hermengarda tem a certeza que o filho é dela???
Só mesmo tu! lol
O Shakespeare é um menino de coro...
"Hermengarda Sabão, é uma mulher como tantas outras que, à porta dos quarenta, deseja engravidar pela terceira vez, embora as todas as tentativas para a demover e tentar convence-la a ter antes um segundo filho"... bem!? , o que estará aqui contido????
E a relação escaldante com o Nody em 3 minutos... :) ... só mesmo um brinquedo seria capaz de tal feito., mas ouve lá, este nody já cresceu não foi?
E o doutor, afinal ele o verdadeiro confidente e apixonado de hemengarda que assim ficou "com os 3 e sem nada"... a falta de condições é o que faz. Se calhar foi com uma serra manual, pois no chão e às ecuras não havia electricidade!
... ès genial menino!
Venha daí outro acto!
Beijo grande.
bela peça lol
Aguardam-se então cenas dos próximos capítulos...!
....oooO
....(....)... Oooo
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....oooO
....(....)... Oooo
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...... Passei por aqui
......... E desejo
......... Uma Boa Semana
BEIJOS
a tua imaginação é incrível, onde raio vais buscar isto tudo?
os meus parabéns, adorei! e fartei-me de rir como habitual
beijinhos e boa semana
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