Toni Bigodes era o maior engatatão da Praia de Armação de Pêra. Não havia bifa que lhe resistisse; Corpo bronzeado, tatuagem “Amor de mãe” no braço, um bigode viril e uma extraordinária eloquência na língua inglesa que deixava boquiaberto qualquer professor de literatura do Sudão. O seu nome correu o Algarve. As camones loiras, mal aterravam no Aeroporto de Faro, perguntavam imediatamente pelo Toni; “Where is Tóni”, “We need Tóni”, eram as interpelações mais ouvidas pelos agentes alfandegários. Tanto, que começaram a ser entregues panfletos com todas as indicações necessárias ao mesmo tempo que se carimbavam os passaportes.
Apesar deste sucesso internacional, Toni nunca deixou as portuguesas de mãos a abanar e aos Sábados à noite o seu Toyota Corolla de 73 era visto a abanar por detrás do campo de futebol dos “Armacenenses”. Nenhum outro carro terá levado tantos amortecedores traseiros Monroe como o seu. Fora isso, apenas uma ou outra vez, foi forçado a mudar os botões do rádio que elas partiam com os saltos dos sapatos. Se Júlio César foi o Imperador de Roma, Toni Bigodes foi o Imperador do Sexo de Armação.
Infelizmente, tal como todos os grandes imperadores tiveram o seu fim. Tal como César foi apunhalado, Toni, apesar de não ter partilhado tal desprazer (as únicas facadas foram-lhe deferidas nas rodas do carro por uma faca Gimsu da Odete cabeleireira) também viria a conhecer o seu inesperado declínio.
Muito se conjecturou sobre as razões deste súbito eclipse. No entanto, a verdadeira causa da sua desgraça foi revelada por um amigo dum amigo dum primo em segundo grau. Tudo aconteceu quando uma fulana chegou ao aeroporto e perguntou logo por ele. Mal recebeu o mapa da Região de turismo, pôs-se num táxi e lá foi ao 2º esquerdo do Beco do carapau. O inesperado aconteceu quando a mulher, após receber uma estocada mais viril do nosso homem, soltou o último suspiro e… morreu-lhe nos braços. O seu pequeno cérebro transformou-se num turbilhão de ideias em conflito. Por um lado lamentava a morte da mulher, mas por outro não conseguia deixar de se sentir vaidoso com a sua perfomance sexual. Quando a noticia espalhasse, o seu nome seria um Mito e passaria a figurar nos livros de história mundial – Toni, o homem que mata mulheres com uma simples penetração! – Soava-lhe bem, sim, senhor!
- Estou, senhor Toni. Fala o cirurgião do Hospital de Portimão. É para lhe falar daquela… rapariga que o INEM foi buscar à sua casa. Lamento confirmar a sua morte. Tentámos reanimá-la mas não havia nada a fazer.
- Eu compreendo senhor doutor. Olhe, estou de rastos. Nunca imaginei que a minha virilidade pusesse causar tantos transtornos…
- Como? Desculpe, não percebo.
- Então… matei-a de forma involuntária, não foi? Eu não queria fazer-lhe mal!
- Mas, senhor Toni, o senhor não a matou. Ela simplesmente… adormeceu-lhe nos braços. Como chamou o 112, o médico do INEM resolveu traze-la por precaução. A ambulância despistou-se no caminho e… ela morreu no acidente.
- Adormeceu?... Que raio? Quer dizer que não fui eu quem matou a gaja?
- Pois… Isso era outra coisa que queria falar consigo. Esta senhora… não era uma senhora, mas um senhor! Bem disfarçado, por sinal, mas tinha o equipamento completo, se me compreende… Espanta-me como o senhor não sabia.
- Mas… ela disse-me que gostava de experimentar coisas novas e… oh, meu Deus!... Doutor, diga-me uma coisa.
- O quê?
- Os homens não engravidam, pois não?