Sonho de uma noite de Reveillon
- Eh, pá. Não me digas nada! Acreditas que fui busca-la a casa e enquanto se preparava deu-me uma daquelas diarreias? Mas daquelas mesmo ralas, tão finas que davam para chupar por uma palhinha se…
- Eh, pá. Cala-te! Já percebi. Diz-me logo o que aconteceu.
- Bem, pedi-lhe para ir à Sala-de-banho. Mas como não achava o interruptor, não acendi a luz… Depois, aliviei-me e nem queiras saber o alívio que foi!...
- Sim, pá. Conta o resto.
- O que acontece? Quando jogo as mãos à procura do tóclismo, não o encontro.
- Eh, pá. Isso é lixado! Um gajo precisa dum tóclismo na sala-de-Banho!
- Podes, crer! Eu cu diga! Bem… foi então que vi o interruptor. Cheguei-me a ele com as calças em baixo porque… depois acendi-o e foi quando vi o tóclismo.
- Ah, então ele estava lá!
- Estava, mas do lado oposto, porque eu tinha cagado no bidé!
- Eh, pá. Não se caga no bidé! Pelo menos quando estamos em casa alheia!
- Pois. Mas que queres? Foi uma aflição. Peguei numa pá, apanhei a merda toda como pude e deitei-a na sanita.
- E tudo acabou bem.
- Não. Aqui é que as coisas pioram! Quando fui descarrega-lo, o maldito tóclismo não tinha água! Não havia água em nenhuma das torneiras e ainda por cima sujei-as todas com as mãos e também não havia papel higiénico!
- Eh, pá! Ganda galho! É por isso que tenho a “Nova gente” sempre junto à retrete! Leio as notícias que interessam e depois limpo o cu com elas. O papel higiénico tá caro!
- Imagina como fiquei. Não tive solução senão limpar-me numa toalha cor-de-rosa que ela tinha em cima da banheira; depois tive que mete-la pela sanita e empurra-la com o cabo da vassoura…
- E acabou o problema?
- Ainda não. Nisto, ela vem à porta e pede-me a blusa que deixou em cima da banheira e eu digo: “Blusa? Não vejo nenhuma!” e ela responde: “Uma cor-de-rosa” e eu respondo “Uma cor-de-rosa que está em cima da banheira?” ao que ela retorque “Sim, essa mesmo!” e eu respondo “Não está cá nenhuma!”. Resultado, a toalha, não era uma toalha, mas sim a blusa que ela pretendia vestir.
- Eh, pá! Tás mesmo numa de azar! Como fizeste?
- Bem, jurei-lhe a pés juntos que a blusa não estava lá e ela voltou para o quarto com a pulga atrás da orelha.
- E vestiu outra?
- Sei lá! O bidé ainda estava todo cagado! Peguei numa esfregona que estava no chão, limpei-o o melhor que pude e saí dali. Mais ou menos composto. Quer dizer, limpei as mãos nos bolsos mas as unhas… Cristo! Não podia esquecer-me de não roer as unhas!
- E conseguiste escapar?
- Quase… quase! Sentei-me na sala à espera dela e aproveitei para limpar melhor as mãos ao cortinado. Quando a fulana aparece e diz-me que vai fazer um pipi… Eu cruzei os dedos e disse para mim “Pá, se o Pinto da Costa consegue engatar uma gaja de classe como a Carolina, tudo é possível!”… E foi, foi… e de repente solta um grito!
- Que foi?
- Ela disse: Quem foi o filha da puta que limpou o cu ao meu Caniche?
- Qual Caniche?
- A esfregona! A esfregona afinal era um cão. Bem que a senti arranhar no rabo! Enfim, não tive alternativa senão contar-lhe a verdade omitindo apenas a parte da merda, da falta de água, de papel higiénico e da blusa cor-de-rosa.
- Ela acreditou?
- Acho que não. Deu-me com uma frigideira Tefal na cabeça e obrigou-me a engolir um esfregão.
Pausa.
- … e o resto da noite? Como correu?